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Pesquisa feita na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que dependentes que tomam preferencialmente bebidas destiladas, como cachaça, uísque e vodca, têm mais dificuldade para abandonar o vício do que dependentes que preferem cerveja. O estudo, feito pelo psiquiatra Danilo Baltieri, pode indicar novos tratamentos.
Segundo o pesquisador, cujo trabalho será publicado na revista científica Alcohol, a quantidade de álcool ingerida explica a diferença. O grupo que prefere destilados consome em média 320 gramas de álcool por dia. Já os que adotam a cerveja, ingerem média de 260 gramas diariamente. Para se ter uma ideia da quantidade, 260 gramas por dia correspondem, segundo Baltieri, a 11 garrafas de 600 mililitros.
O pesquisador ressalta, porém, que os consumidores de destilados como a cachaça têm nível socioeconômico mais baixo que os bebedores de cerveja, o que pode influenciar na dependência. “Avaliamos a bebida preferencial de cada paciente portador de deficiência alcoólica”, explicou. “Com a pesquisa, podemos avaliar o melhor tratamento.” Segundo Baltieri, esse é o primeiro estudo no mundo a relacionar a aderência ao tratamento com o tipo de bebida ingerida.
O objetivo da pesquisa era testar a eficácia de dois tipos de remédios (topiramato e naltrexone). Para isso, Baltieri e sua equipe separaram os dependentes de acordo com a bebida preferencial consumida. O grupo dos destilados aderiu menos aos tratamentos que o grupo da cerveja. “O grau de dependência foi maior entre os que consomem destilados”, diz Baltieri. “Ou abandonaram o tratamento antes ou voltaram a beber mais precocemente.”
A diferença entre os dois grupos estava na fissura – vontade incontrolável de beber. Os consumidores preferenciais de destilados têm mais compulsão para beber que os de cerveja. Vale ressaltar que o estudo não permite relacionar que destilados provocam maior dependência do que a cerveja. “A pesquisa foi feita com pessoas já dependentes.”