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Dr. Ricardo Teixeira
Dois estudos recém-publicados numa mesma edição da revista Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, discutem a relação entre a hipertensão arterial ao longo da vida e o risco de apresentar demência em idades avançadas. O primeiro estudo demonstrou que indivíduos hipertensos na meia idade, e que faziam tratamento com medicações anti-hipertensivas, esses apresentaram menos risco de demência do que aqueles que não usaram medicações, e também menor risco do que aqueles que nem apresentavam pressão alta. Esse grupo de hipertensos tratados ainda apresentou menor contingente de alterações cerebrais características da Doença de Alzheimer ao terem seus cérebros examinados. O segundo estudo mostrou que o tratamento da hipertensão arterial reduziu o risco de demência, especialmente entre pessoas com menos de 75 anos de idade, onde a redução do risco foi de 8% quando comparado àquelas que nunca fizeram tratamento para pressão alta.
Em nenhum dos dois estudos foi possível identificar a superioridade de uma determinada classe de anti-hipertensivo sobre outra. À luz do conhecimento atual, as evidências são de que o tipo de droga utilizada não faz tanta diferença, mas já há evidências de que o efeito protetor dos anti-hipertensivos no cérebro vai além do poder de controlar a pressão arterial, podendo atuar, por exemplo, nos mecanismos de progressão da Doença de Alzheimer. Além disso, o achado de que o benefício do tratamento não é tão robusto após uma certa idade (75 anos) chama a atenção para o reconhecido fato de que os idosos apresentam um diferente estado de regulação dos vasos sanguíneos, e que os anti-hipertensivos devem ser usados com mais cuidado do que nos jovens. Níveis baixos de pressão arterial, que podem não representar qualquer risco para um jovem, no idoso pode chegar a provocar lesão cerebral do tipo isquemia por baixo fluxo da circulação.
E qual será o mecanismo pelo qual o tratamento da hipertensão arterial é capaz de reduzir o risco da Doença de Alzheimer? Sabemos que a hipertensão arterial é um dos principais vilões para o pleno funcionamento dos vasos sanguíneos e esse efeito pode ser visto tanto nos grandes vasos sanguíneos quanto na microcirculação. Um dos principais marcadores da Doença de Alzheimer é o depósito de proteínas no cérebro e é fundamental o pleno funcionamento da microcirculação cerebral para que essas proteínas não se acumulem de forma exagerada. Essa é uma das formas de entender a razão pela qual a atividade física, uma dieta rica em frutas, vegetais e Ômega-3 e o consumo moderado de álcool, todos esses sejam considerados fatores protetores da Doença de Alzheimer. Se é bom para os vasos, é bom para o cérebro.
Dr. Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" www.consciencianodiaadia.com e consultor do Grupo Athena.