Valor Econômico
O presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisas (Interfarma), Antonio Brito, estimou ontem que investimentos de no mínimo US$ 1 bilhão estão na mesa hoje sendo estudados para o país, apesar do contencioso entre o Brasil e os EUA na briga do algodão.
O governo ameaça quebrar patentes de remédios como uma das sanções contra os americanos pela manutenção de subsídios ilegais ao setor do algodão. Brasília sinaliza que pode retaliar a partir de março, quase nove meses depois de ter obtido a autorização da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mas Brito constata que o ritmo de investimentos e de projetos de laboratórios para o país não foi afetado "porque está todo mundo convencido de que haverá solução negociada na briga do algodão".
A visita da secretária de Estado americana Hilary Clinton a Brasília, no começo de março, é vista pelo setor farmacêutico como uma indicação de que as negociações bilaterais podem avançar e evitar sanções "que não interessam a ninguém".
Com um mercado de US$ 12,5 bilhões em 2008, o Brasil está num momento de "boom de atratividade" para os laboratórios, disse Brito em Genebra, numa etapa do seu giro pela Europa em contatos com associações de farmacêuticas.
Sua constatação é de que laboratórios incluíram o Brasil nos seus cinco mercados prioritários, juntamente com a China, Índia, Rússia e Turquia. É que o país é um dos mercados que mais crescem, tendo registrado expansão de 12,1% nos últimos cinco anos.
Brito diz que os laboratórios identificam vantagens comparativas no Brasil, tanto pela estabilidade política e econômica, como pela forte qualificação científica que deve atrair mais projetos de pesquisa e desenvolvimento, numa mudança significativa em relação ao passado recente.
Enquanto o governo fala que a quebra de patente reduzirá o preço de medicamentos, com a compra de genéricos, no setor privado a expectativa é de que isso criaria um fluxo de produtos ilegais procedentes da Ásia.
No Brasil, estimasse que os laboratórios vendam 1,8 bilhão de embalagens de remédios. Outra fatia de 1,2 bilhão vão para amostras grátis, hospitais etc. Mas há ainda uma fatia de 15% do remédio comercializado que é falsificado, contrabandeado ou coberto por outras ilegalidades.
Existe forte suspeita de um eixo de remédios China-India-Paraguai. Em São Paulo, existiriam gráficas imprimindo embalagens desses produtos. O setor informal e ilegal visaria agora também remédios de valor agregado, falsificando inclusive medicamentos contra câncer.
Entre janeiro e outubro de 2009 o governo apreendeu 329 toneladas de remédios em situação ilegal, incluindo falsificados. O fenômeno é tão grande no país que o governo e o setor privado esperam implementar, no segundo semestre, a rastreabilidade dos remédios. Em cada etapa – fábrica, distribuidor, farmácia etc , o produto será carimbado para o paciente saber sua exata procedência.