Folha de S. Paulo
Procedimento prevê a colocação de um stent para desbloquear as artérias das pernas
Complicação da doença é a maior causa de amputação de pés do mundo; principal culpado é o uso de sapato inadequado, diz médico
A colocação de stents, similares aos usados em cirurgias cardíacas, pode curar úlceras e feridas de difícil cicatrização, comuns nos pés dos diabéticos. O stent é uma pequena "rede" que serve para filtrar placas de gordura e desbloquear artérias.
O pé diabético é a principal causa de amputação no mundo. Com o procedimento, o objetivo é garantir a abertura dos vasos entupidos quando a angioplastia -técnica que também desobstrui o vaso por meio de balão- não foi suficiente para garantir o fluxo de sangue.
"Com a colocação de stents próprios para esses casos estamos salvando os pés desses pacientes", conta o cirurgião endovascular Armando Lobato, presidente de um congresso internacional que acontece em São Paulo e que discute o tema.
A colocação de stents em casos de pés diabéticos já começou a ser feita no Brasil, embora a técnica ainda não seja difundida entre os cirurgiões.
"Outra novidade apresentada [no congresso] é a introdução do cateter pelo pé em vez da virilha", conta o cirurgião endovascular Dino Fecci Colli, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e do Hospital Santa Catarina, também na capital paulista. "Trata-se de uma tecnologia endovascular para o pé diabético, que inclui novos materiais específicos para esses casos e que está trazendo ótimos resultados", conta Colli. "Podemos curar a ferida, mas a pessoa precisa manter a doença sob controle a vida inteira", frisa o médico.
O pé diabético é uma das complicações mais temidas nesses pacientes porque provoca feridas e úlceras que podem demorar meses para cicatrizar e, em casos mais avançados, levam à amputação de dedos ou do pé inteiro. Estima-se que 18% dos diabéticos tenham alguma complicação nas pernas.
Esses pacientes são especialmente suscetíveis a úlceras e feridas quando não controlam a doença em razão de dois problemas comuns do diabetes: o alto nível de colesterol no sangue, que leva ao depósito de gordura nas artérias, aliado à neuropatia diabética, que é a modificação das terminações nervosas causada pela taxa elevada de glicose em circulação.
"É comum que a pessoa se machuque sem notar", diz Fadlo Fraige Filho, presidente da Anad (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) e chefe do serviço de endocrinologia da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Com a irrigação prejudicada pelo entupimento dos vasos, a ferida custa a cicatrizar. Estimativas da Anad apontam que 30% dos pacientes têm doença vascular periférica, 70% sofrem de neuropatia, e 40%, de doenças coronarianas.
O problema é que pouquíssimos pacientes são orientados corretamente sobre como examinar os pés. "Estimo que 90% deles nem sejam examinados pelo médico", diz Fadlo Fraige. "E a principal causa da amputação é o uso de sapato inadequado", lamenta o médico.
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