Por Ana Lucia Caldas, consultora farmacêutica (analulcadas@gmail.com)
Os novos desafios para valorização do farmacêutico começam pelo entendimento de que é preciso reconhecer o momento pelo qual a profissão atravessa e aceitar as profundas transformações que as últimas resoluções estabeleceram, contribuindo para abalar a identidade desse profissional. Atualmente, não é tão fácil reconhecer quem é o farmacêutico, pois a imagem do profissional que pesquisa, desenvolve, manipula e dispensa medicamentos ficou defasada.
Ser reconhecido apenas como “o profissional do medicamento” já não cabe mais. É primordial assumir as responsabilidades de orientar, educar e promover a saúde das pessoas. A atuação clínica do farmacêutico vai além do âmbito hospitalar e chega às farmácias comunitárias, onde, por meio da consulta farmacêutica, o profissional tem a oportunidade de identificar possíveis problemas relacionados aos medicamentos, bem como orientar e indicar produtos e serviços de saúde na intenção de garantir a efetividade dos tratamentos e a qualidade da atenção farmacêutica. Dessa forma, o farmacêutico coloca em prática o lado humanístico da profissão, com foco na atenção primária e com atitudes que requerem uma maior autonomia e conhecimentos suficientes para tomar importantes decisões, que cabem ao profissional de saúde, com total responsabilidade sobre seus pacientes.
Assim, fica fácil entender que a atenção farmacêutica é uma arma poderosa para transformar e melhorar a qualidade da saúde das pessoas, resultando em benefícios, entre eles, atendimento personalizado, melhor controle das doenças e facilidade para seguir o plano de cuidados planejado.
Para a farmácia, além de aumentar o fluxo de pessoas, esse atendimento diferenciado pode proporcionar maior fidelização e retenção de clientes, mostrando-se como o grande diferencial diante da concorrência e, principalmente, o reflexo de um modelo de gestão sustentável e inspirador. Essa farmácia não é necessariamente a que mais fatura, porém tem uma performance de qualidade, que serve como referencial de boas práticas e funciona como base para um possível processo de expansão.
Talvez, nas capitais e nos grandes centros, ainda não esteja tão claro o quanto a farmácia pode contribuir para a saúde da população, mas, quando pensamos em locais mais distantes, onde o cuidado em saúde é um privilégio de poucos, percebemos o quanto o serviço de um farmacêutico pode fazer a diferença para as pessoas, evidenciando a importância da farmácia comunitária como local de saúde.
Falta ainda identificar o modelo ideal a ser implantado pelos diversos estabelecimentos, tendo em vista a grande dimensão do nosso território e as diferenças econômicas e culturais de cada região. Entender as peculiaridades locais, os desafios e as oportunidades de acordo com o perfil do consumidor e das comorbidades mais presentes deve ser prioridade para o sucesso da clínica farmacêutica no estabelecimento.
Talvez seja necessário desconstruir o modelo que, nos últimos tempos, tentamos copiar ou adaptar de farmácias estrangeiras. Somente depois de um profundo estudo, será possível elaborarmos um modelo de farmácia e de atendimento farmacêutico que contemple todos os requisitos necessários, de forma a garantir a eficiência e a qualidade das farmácias e do trabalho dos farmacêuticos em prol da saúde da população.