Valor Económico
O país deve estar atento às oportunidades que se abrem com esse reposicionamento global da cadeia farmacêutica
A indústria farmacêutica passa por um momento de reposicionamento estrutural em toda a sua cadeia de valor. Essas mudanças resultam de fatores internos às empresas e seus modelos de negócios, relacionados principalmente à capacidade de gerarem inovações que possam ser colocadas no mercado, mas também de fatores externos fruto, sobretudo, de um maior ativismo regulatório por parte dos governos em todo o mundo. Esse cenário abre importantes oportunidades para o Brasil.
O pipeline de novos produtos a serem lançados pelas principais empresas do mundo vem se reduzindo a cada ano. Visando contornar esse problema, as grandes empresas do setor passaram a buscar inovações na área de biotecnologia. A descoberta de novos medicamentos de base biológica, por sua vez, aumentou significativamente os custos de inovação, dado que os processos para pesquisa dessa natureza ainda não foram padronizados. Além disso, a reação desses produtos no organismo pode variar muito de indivíduo para indivíduo, aumentando as dificuldades para a aprovação de medicamentos de origem biotecnológica em testes clínicos.
Além de gargalos na área de pesquisa e desenvolvimento, a indústria farmacêutica também enfrenta problemas nas áreas industrial e comercial.
Grande parte do parque industrial farmacêutico tem se tornado obsoleto com o avanço dos produtos biotecnológicos e de tecnologias mais avançadas. Decorre disso a centralização da produção em poucas plantas globais, dado que a escala dos mercados domésticos não justifica os vultosos investimentos nessas novas plantas.
Do ponto de vista regulatório, cada vez mais as empresas têm que operar em mercados com altos padrões sanitários. De forma análoga, há uma crescente pressão para que haja mudanças nos programas de saúde pública em todo o mundo. Isso se reflete em constantes negociações para redução nos preços dos medicamentos vendidos para governos, ou ainda maior controle sobre os preços dos produtos colocados nos mercados.
A questão que se coloca diante desse cenário é: como as empresas do setor estão reagindo a esses fatores? De forma bastante simplificada, nota-se um duplo movimento.
Por um lado, verifica-se um crescimento no número de fusões e aquisições. Desde 1999 elas somaram 13 com valores maiores do que US$ 15 bilhões. Por meio dessas operações, as empresas buscam aumentar seus pipelines de produtos ou diversificar seus negócios. Muitas inclusive passaram a operar também no mercado de genéricos.
Outra estratégia é a descentralização de processos inovadores, produtivos e comerciais. A indústria farmacêutica é tradicionalmente um setor bastante centralizado em comparação a outras indústrias. Os casos de terceirização dos processos ou mesmo transferência para filiais em países com custos mais competitivos eram bastante raros. Até recentemente, as unidades produtivas espalhadas pelo mundo se resumiam a fabricar medicamentos desenvolvidos nos laboratórios das matrizes e a operação local das empresas se focava na comercialização desses e de outros produtos importados.
A busca por novidades no campo da inovação, assim como pela reduçã