ASCOFERJ | Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro

Uma boa oportunidade ou um grande risco

Revista da Farmácia – ed. 199:

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Luis Carlos Marins, presidente da Ascoferj

Atualmente, discute-se a polêmica questão dos consultórios farmacêuticos, termo que ainda carece de uma normatização por parte da Anvisa, segundo entendimentos de alguns juristas, pois o que a Lei 13.021/14 reconhece é a legitimidade das farmácias e drogarias como estabelecimentos do sistema de saúde, algo que já havia acontecido no passado.

Entretanto, o cerne da questão não é se o termo correto é consultório, sala, espaço farmacêutico e sim como esse modelo de negócio está sendo implantado estrategicamente nas empresas. Imaginava-se que os serviços farmacêuticos previstos na legislação fossem ter, inicialmente, uma grande adesão por parte de pequenas e médias empresas, pois elas possuem uma proximidade muito maior com os clientes, facilitando a fidelização e contribuindo como uma nova fonte de receita.

Na realidade, ocorre que as grandes redes partiram na frente com a implantação dessa nova unidade de negócio, instalando salas de atendimento dentro de suas lojas para serviços como aplicação de medicamentos injetáveis, verificação de pressão arterial, dosagem de glicemia capilar, pequenos curativos, colocação de brincos e também, em fase de análise, aplicação de vacinas.

Certamente, esses serviços serão de grande benefício para a população, pois a melhor maneira de se combater as enfermidades é levar informação ao paciente, permitir a acessibilidade ao tratamento, por meio da imensa capilaridade de farmácias no País, e possibilitar o monitoramento das doenças.

Simultaneamente, o sistema público de saúde será beneficiado com a possibilidade de as farmácias serem o primeiro contato com o paciente, feito de forma preventiva e por meio da legítima atenção farmacêutica.

Esse cenário seria perfeito não fosse o risco de tudo se perder em um curto espaço de tempo pela falta da percepção dos empresários em reconhecer essa prestação de serviço como algo de valor e não como filantropia, algo totalmente gratuito, com ônus para as empresas.

Imagino o quanto de investimento para uma empresa é necessário para viabilizar essa unidade de negócio: o custo do profissional farmacêutico nessa atribuição, o tributo que certamente irá incidir sobre a atividade, os riscos de acidentes inerentes ao serviço que deve ser provisionado por seguro de responsabilidade civil, a fim de cobrir eventuais infortúnios, e demais despesas.

O setor, mais uma vez, toma equivocadamente o caminho da desvalorização de seus ofícios. Aproveito para fazer um paralelo com a prestação de serviços utilizados no formato de delivery, praticado pela grande maioria do varejo. Somos o único segmento que oferece esse serviço gratuitamente e ainda concede desconto nos produtos entregues em domicílio. Asseguro que uma grande maioria dos empresários desconhece o custo real de cada entrega e o impacto financeiro no orçamento do negócio.

Sugiro que o gestor efetue uma análise criteriosa da relação custo-benefício antes de decidir pela implantação dos serviços farmacêuticos como estratégia de mercado, pois, se o empresário faz de graça e não reconhece o valor de seu trabalho, não espere do cliente esse reconhecimento. É preciso discernir, de fato, se estamos diante de uma oportunidade ou de um risco.

Luis Carlos Marins, presidente da Ascoferj

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