Folha de São Paulo
OMS alerta para alta de custos e afirma que 24 milhões de crianças ainda estão desprotegidas
A Organização Mundial da Saúde anunciou que a vacinação infantil atingiu um recorde de 106 milhões de doses aplicadas no ano passado e o mercado de vacinas triplicou em oito anos, gerando uma receita de US$ 17 bilhões estimados para 2008. Ainda assim, um em cada cinco bebês de até um ano não tem acesso à imunização.
Os dados constam da terceira edição do relatório anual "Situação das Vacinas e da Imunização no Mundo", lançado ontem em Genebra e Washington em conjunto com o Unicef e o Banco Mundial. O texto exorta governos e entidades privadas a investirem mais em vacinação infantil, julgando-a um dos métodos mais eficazes para reduzir a mortandade precoce.
Segundo o relatório, hoje as vacinas evitam 2,5 milhões de mortes de crianças por ano. Desde 1970, o número absoluto caiu quase à metade. A melhora é resultado, sobretudo, do combate a doenças comuns, como o sarampo. Nos últimos oito anos, quando a vacinação aumentou, as mortes decorrentes da doença caíram.
Já a poliomielite foi erradicada de três das seis regiões da OMS (América, Europa e Oeste do Pacífico).
O mercado de vacinas disparou desde 2000, tornando-o uma fatia importante da indústria farmacêutica, que cresce a uma velocidade duas vezes maior do que o de drogas terapêuticas. Espera-se que esse crescimento acelere com novas vacinas mais sofisticadas. Mas o ganho financeiro não vem sem ônus. Nesta semana, uma discussão na OMS sobre propriedade intelectual de cepas de vírus estancou, com os países desenvolvidos (sede das principais indústrias do setor, como EUA e Suíça) de um lado e os em desenvolvimento, como o Brasil, para os quais vírus não deve ter patente, de outro. A OMS chama a atenção para um paradoxo: enquanto cinco grandes empresas em países desenvolvidos concentram 80% do lucro, 86% dos estoques de vacinas são usados em países em desenvolvimento.
Hoje, 115 governos (60% dos países) arcam totalmente com os gastos com vacinação infantil, inclusive no Brasil. Mas a OMS alerta que os custos crescerão com as vacinas mais complexas. O preço de imunizar um recém-nascido (US$ 18) deve avançar e chegar a US$ 30.
Para a entidade, é preciso mais US$ 1 bilhão ao ano em doações para cobrir a demanda.