Dados recentes da Close-Up International, referentes ao período MAT 06/18, mostram que o varejo farmacêutico vai crescer apenas um dígito em 2018, na casa dos 6,6% em reais com desconto, diferentemente dos últimos anos, em que o desempenho passou dos 10%. Apesar disso, segundo a gerente de Relacionamento de Provedores da Informação da Close-Up International, Joscimara Eller Wamser, ainda é um resultado bom, considerando principalmente o fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que deve se limitar a 1,44%, de acordo com previsões do mercado financeiro. Em entrevista à Revista da Farmácia, Joscimara diz que “melhorias na gestão e na organização dos processos, ao longo do tempo, vão fazer a diferença no negócio”. Leia a seguir.
Revista da Farmácia: Na categoria de medicamentos, qual segmento se destaca?
Joscimara Eller Wamser: Segundo a classificação da Close-Up International, o líder em crescimento da categoria são os produtos Exclusivos, com 21,6%, seguidos pelos Genéricos, com 14,4%, e os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP), com 9,9%. Já os medicamentos de Marca, que são aqueles em que a indústria farmacêutica trabalha visitação médica, cresceram 5% e representam 34,4% do total em reais com desconto na variação dos últimos dois anos.
RF: Quais são os produtos Exclusivos e que oportunidades eles podem gerar para o varejista?
Joscimara: Os produtos classificados como exclusivos são aqueles que apresentam características únicas, como dosagem, número de comprimidos, volume, sabor etc., representando em torno de 2.900 SKUs, com uma participação de 8,7% do mercado em reais com desconto. Esses produtos, por não terem um concorrente direto, têm oportunidade de precificar melhor, sofrendo menor influência de descontos, diferentemente do que ocorre no mercado de genéricos. O varejo farma deve analisar proativamente o giro desses produtos na área de atuação dele e incluí-los no portfólio como forma de gerar diferenciação, pois, como não podem ser substituídos, na falta deles, a farmácia pode perder a venda do item ou a da receita como um todo.
RF: A categoria de Não Medicamentos tem uma importante participação no varejo farma? Como ela vem crescendo e quem se destaca?
Joscimara: A categoria formada por produtos de higiene, beleza, alimentos e correlatos, embora participe com 31,5% das unidades e 26,3% em reais com desconto, tem sentido com maior força a crise econômica. O consumidor passou a ser mais criterioso na escolha das marcas, o que fez com que essa categoria tivesse uma redução no seu preço médio em relação aos medicamentos, com um crescimento de 1,4%. Grandes marcas, como L´Óreal, J&J, P&G, Unilever, Nestlé e Kimberly-Clark, concentram 37,1% das vendas em reais com desconto. Os três mercados mais importantes desse segmento são emolientes/protetores solares, fraldas infantis e fórmulas pediátricas, destaque para essa última categoria, que cresceu 19,8%, sendo que, dos 20 itens mais vendidos no varejo farma, cinco são fórmulas infantis. Os não medicamentos são uma importante categoria para o varejo farma e uma excelente oportunidade de crescimento para as farmácias independentes, que podem e devem explorar esse mercado.
RF: As grandes redes estão em franca expansão no Brasil. Qual o impacto disso sobre os pequenos negócios?
Joscimara: As grandes redes representam 53,1% do total das vendas em Reais com desconto, seguidas pelas farmácias independentes, com 24%, e pelas farmácias ligadas ao associativismo, com 12,9%. Já o crescimento das grandes redes está pautado fortemente na abertura de pontos novos, procurando garantir a ocupação dos espaços nos grandes centros e buscando novos mercados em cidades com menos de 100 mil habitantes. É necessário que o pequeno varejo entenda a importância da profissionalização para se manter competitivo no mercado, trabalhando fortemente na tríade “pessoas, mercado e processos”. Aquilo que a empresa vende tem que estar em sintonia com quem compra. Então, cada vez mais, a tomada de decisão para composição do portfólio deve estar pautada em cima de fatos e dados, buscando evitar ruptura em consonância com uma precificação adequada ao cliente. Para fechar este ciclo, é necessário promover ações que trabalham as competências da equipe, pois ela é fundamental para gerar processos, produtos e serviços de valor, que consigam ampliar e manter clientes satisfeitos.
RF: Como a farmácia independente pode concorrer com um mercado cada vez mais concentrado? A oferta de serviços também vem crescendo, muitas farmácias já cobram para aferir uma pressão ou medir uma glicose. Esse é um caminho?
Joscimara: As farmácias independentes estão instaladas, na sua grande maioria, em bairros ou em cidades de menor porte, o que lhes confere a vantagem de conhecer melhor o público, as relações familiares e os hábitos de consumo. Mas isso só se transforma em uma vantagem competitiva a partir do momento em que o varejo passa a fazer gestão do seu negócio, com foco “no” cliente, sem perder o foco “do” cliente. Quantas vezes, no último ano, você entrou na sua loja prestando atenção em detalhes como manutenção da fachada, disposição dos produtos nas gôndolas, atendimento da equipe, limpeza, impressão que o caixa está deixando no consumidor, entre outros. Como o conhecimento do farmacêutico está sendo aplicado? Afinal, ele é um grande influenciador dentro do ponto de venda e pode apoiar os tratamentos multidisciplinares, prestando serviços farmacêuticos diversos, como aferição de glicemia, pressão arterial, teste dos níveis de colesterol, colocação de brincos, atenção farmacêutica. Portanto, melhorias na gestão e na organização dos processos, ao longo do tempo, vão fazer a diferença no seu negócio. O canal do associativismo, por exemplo, cresceu, na variação dos últimos dois anos, acima do mercado, na ordem de 11,1%.
RF: Quais são as expectativas de fechamento para o canal farma em 2018 e as projeções de crescimento para 2019?
Joscimara: O ano de 2018 está sendo marcado pela greve dos caminhoneiros, que impactou negativamente a economia, aliada ao desdobramento do processo eleitoral, que faz com que o mercado financeiro fique instável. Para este ano, prevemos crescer 5,2% em unidades e 6,6% em reais com desconto. Em 2019, o setor deve crescer 5,5% em unidades e na ordem de 7,1% em reais com desconto. Os medicamentos de prescrição serão menos impactados por oscilações na economia e ganham participação no mercado. Os genéricos continuam como driver de crescimento do mercado em 2019, bem como nos próximos anos, haja vista que o envelhecimento da população favorece o aparecimento de doenças crônicas.
Por Viviane Massi (Revista da Farmácia)