Folha de S. Paulo
Quatro em cada dez pessoas que usam lentes de contato não as substituem dentro do prazo recomendado, aponta pesquisa realizada em fevereiro deste ano no Canadá, envolvendo 1.654 pessoas. Outro problema é que os usuários não as limpam de maneira adequada.
Os pacientes entrevistados usavam diversos tipos de lente de contato, em especial as lentes de silicone hidrogel (que permitem maior oxigenação das córneas), que deveriam ser descartadas diariamente, em duas semanas ou em um mês.
Os mais descuidados foram os pacientes que usavam as lentes de descarte quinzenal -59% deles admitiram usar o produto por mais tempo do que o preconizado. "Não existe tolerância. Se o descarte não for feito no dia correto, provavelmente a pessoa terá algum problema", diz Denise de Freitas, chefe do Departamento de Oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
As duas explicações para justificar o uso inadequado foram o esquecimento (por causa do conforto que as lentes proporcionam) e o custo dos produtos.
Os principais problemas causados pelo mau uso são alterações oculares (embaçamento ou perda visual), alergias e coceiras. Em casos graves, podem surgir infecções que levam à necessidade de transplante.
De acordo com a oftalmologista Tânia Schaefer, presidente da Soblec (Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria), há poucos trabalhos brasileiros sobre uso incorreto de lentes. Mas, mesmo assim, ela afirma que o problema observado no Canadá se repete no Brasil.
"Isso ocorre principalmente porque as lentes são adquiridas de forma livre, sem orientação médica. Além disso, as pessoas não fazem a limpeza correta das lentes, colocando os olhos em risco. As pessoas só se dão conta quando já estão com algum problema", afirma.
Um dos estudos brasileiros, realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), chegou aos mesmos resultados. "Quase metade das pessoas usa por mais tempo do que o recomendado. Além dos problemas oculares, o uso inadequado pode causar intolerância às lentes", diz a oftalmologista Denise Fornazari de Almeida, professora da Unicamp