O Estado de S. Paulo
Preocupado com o risco de desnacionalização do parque farmacêutico brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai mudar sua estratégia para estimular fusões no setor.
Por meio da BNDESPar, o banco quer entrar como sócio em companhias que se disponham a abrir capital – um atalho para criar grandes farmacêuticas nacionais. Nas contas do BNDES, empresas mais robustas, com faturamento anual acima de R$ 3 bilhões, teriam melhores condições de resistir ao assédio das multinacionais, cada vez mais atraídas pelos bons resultados dos laboratórios nacionais.
Experimentando um novo patamar depois da explosão do mercado de genéricos, as farmacêuticas brasileiras não viram a crise. No ranking do IMS Health, que faz consultoria e auditoria para o setor, o laboratório brasileiro EMS assumiu a liderança do mercado brasileiro este ano, ultrapassando a multinacional francesa Sanofi-Aventis.
Outros dois laboratórios nacionais, Aché e Eurofarma, também figuram entre os cinco primeiros colocados, juntamente com a Medley, que agora pertence à Sanofi-Aventis. E foi justamente a venda da empresa para o grupo francês, em abril, que acendeu o sinal amarelo no BNDES.
O negócio de R$ 1,5 bilhão impôs nova redução da fatia das empresas brasileiras no mercado, que havia saltado de 28,2%, em 2000, para 43% no ano passado. Desde então, multinacionais rondam as brasileiras. A Pfizer, por exemplo, negociou com a Neo Química, que deve manter o capital nacional numa venda para o grupo Hypermarcas – o negócio foi anunciado nesta segunda (7).
“O País virar alvo internacional traz oportunidades, mas também riscos. O risco que o BNDES vê é uma desnacionalização precoce da nossa indústria. O exemplo da Medley pode não ser o único”, teme Pedro Palmeira Filho, gerente do Departamento de Produtos Químicos e Farmacêuticos do banco.
Desde que criou, em 2007, um programa para o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional – o Profarma – o BNDES tenta aumentar a concentração no setor, mas esbarra no perfil familiar predominante nas farmacêuticas brasileiras.
As negociações emperram quando se discute quem vai mandar na empresa resultante de uma união. Por isso, o banco de fomento quer entrar nos laboratórios para, por dentro, ajudá-los a se tornarem players mais agressivos. “É um processo longo. É difícil convencer o fundador que criou aquele negócio do nada que é melhor ser sócio de uma empresa muito maior do que mandar sozinho numa pequena”, diz Palmeira.