Folha de S. Paulo
A partir de 2011, os pacientes receberão uma bula mais didática, com informações simples, e profissionais da saúde receberão bulas científicas, com conteúdos técnicos. As alterações constam da resolução publicada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no "Diário Oficial da União" de ontem.
Entre as principais mudanças estão a alteração no tamanho da fonte -todas terão tamanho 10, praticamente o dobro do tamanho usado atualmente, e o espaçamento entre as linhas também será maior para facilitar a leitura.
Além disso, as informações para o leigo serão dispostas em forma de perguntas e respostas. Outra novidade que deverá constar das informações sobre os medicamentos são frases de advertência sobre o potencial do remédio para doping.
As mudanças nas informações das bulas foram aprovadas depois de uma consulta pública iniciada em fevereiro.
O principal objetivo era tornar o documento mais fácil de entender, já que alguns estudos apontavam que as bulas dos remédios vendidos no país eram incompletas, excessivamente técnicas para o público leigo e superficiais e desatualizadas para os médicos.
"Havia muita confusão. Agora teremos uma bula mais amigável, com letras muito mais visíveis", afirmou a gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Tatiana Lowande.
Embora as bulas tenham de trazer informações mais detalhadas, o tamanho do papel não deverá mudar, pois, pelas novas regras, médicos e pacientes receberão bulas diferentes. O modelo atual inclui as informações para os dois públicos.
Nas farmácias, só serão vendidos medicamentos com bulas didáticas, específicas para os pacientes. As bulas técnicas e com informações científicas serão incluídas nos medicamentos de uso hospitalar, ambulatorial e profissional, ou poderão ser consultadas por médicos e outros profissionais da saúde por meio do bulário eletrônico, disponível no site da Anvisa (www.anvisa.gov.br).
"Desta forma, vamos adequar melhor a linguagem e o conteúdo em cada tipo de bula", argumentou o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo.
Intoxicação
Para a doutora em saúde pública Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fiocruz, as bulas atuais possuem falhas que confundem os consumidores e provocam inúmeros casos de intoxicação.
"Existe um antibiótico que informa a dose em mg na bula, mas apresenta um dosador em ml para o usuário. Como o leigo vai transformar mg em ml? Vai ter problema, claro", diz.
Dados do Sinitox apontam que cerca de 30% de todos os casos de intoxicação no Brasil em 2007 foram provocados por uso incorreto de remédios. Ao todo, foram registrados 34.028 casos de intoxicação.
A administração inadequada do remédio, que normalmente acontece por dificuldades no entendimento das bulas, é a segunda causa mais comum de intoxicação, ficando atrás apenas da intoxicação provocada por tentativas de suicídio.
Para Bochner, as alterações anunciadas pela Anvisa são importantes, mas ainda não especificam, por exemplo, como e onde fazer o descarte de remédios que sobram<