O Globo
Para os apreciadores do chope pós-expediente ou da cerveja de fim de semana com os amigos, o medo do bafômetro pode estar com os dias contados. Numa descoberta que pode se transformar na maior aliada da Lei Seca no combate a acidentes de trânsito, cientistas israelenses anunciaram esta semana a criação da "pílula da sobriedade", um medicamento feito à base de vitamina B6 capaz de impedir os efeitos do consumo de álcool nas atividades motoras e cognitivas. É o que mostra a publicação de Renata Malkes para O Globo do último domingo.
Apesar de estar ainda em caráter experimental, os primeiros resultados dos testes da droga mostram que, mesmo após a ingestão de bebidas alcoólicas, os pacientes não apresentaram sintomas de embriaguez, e ainda tiveram melhoras nos reflexos e na capacidade motora.
Desenvolvida por uma equipe das unidades de gastroenterologia e psiquiatria do Hospital Universitário Hadassah Ein Karem, da Universidade Hebraica de Jerusalém, a nova droga é um composto de sais e metadoxina, uma variante da vitamina B6, que age sobre o sistema nervoso central e já é amplamente usada no tratamento do alcoolismo, por conseguir reduzir os níveis de álcool no sangue.
Pacientes aprovados em exame de direção
O novo composto conseguiu retardar por várias horas os efeitos do álcool sobre o cérebro, e, além disso, melhorou a coordenação motora e a atenção dos pacientes. Nos primeiros testes realizados em Jerusalém, seis pacientes foram submetidos a um jejum de dez horas, seguidos pela ingestão de 70 mililitros de álcool. Em observação durante as 12 horas seguintes, eles fizeram exames de sangue, testes de memória, provas cognitivas e passaram até mesmo por um simulador de direção. Além da baixa presença de álcool no organismo, todos mantiveram a lucidez, os reflexos e responderam positivamente a todos os estímulos motores. Ninguém apresentou efeitos colaterais ao medicamento.
– Concluímos a primeira fase das pesquisas com resultados positivos, comemorou o pesquisador Yaron Ilan. Estamos certos de que temos nas mãos uma nova arma contra a violência no trânsito. A próxima fase é testar dosagens e quantidades. Esperamos que, num futuro próximo, todos possam sair pra tomar uma cerveja ou um vinho, relaxar com os amigos e voltar para casa dirigindo, sãos e salvos, sem provocar acidentes e colocar vidas em risco.
As conclusões foram apresentadas no inicio da semana pelos pesquisadores Meir Mizrahi e Gadi Lalazar durante o Congresso Anual de Estudos do Fígado, um evento que reuniu, em Boston, 7 mil pesquisadores de 55 mil países. Na próxima fase dos trabalhos em laboratório, um dos maiores desafios da equipe, comandada por Ilan e pelo colega Gadi Lalazer, é encontrar uma maneira de prolongar o efeito da nova fórmula. As pesquisas mostram que, dependendo da quantidade de bebidas alcoólicas ingeridas e do metabolismo de cada pessoa, o álcool leva, em média, de três a cinco horas para ser metabolizado pelo organismo, o que explica a sensação prolongada de desconforto após uma bebedeira. Com a metadozina, esse tempo pode cair para até uma hora e quinze minutos, mas seu efeito é passageiro e, por enquanto, indeterminado, pois a substância é rapidamente absorvida pelo organismo.