O mundo celebra o Dia Mundial do Diabetes hoje: 14 de novembro. Infelizmente, há poucas razões para comemorar, pois a doença que atinge mais de 12 milhões de brasileiros continua crescendo a nível mundial. Até 2045, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), haverá 629 milhões de pessoas no planeta com o diagnóstico da doença, um crescimento de 48%. A maioria, quase 90% dos casos, é de diabetes tipo 2. Ganho de peso e envelhecimento da população estão entre os fatores que desencadeiam a doença, mas há estudos que já associam o diabetes tipo 2 à poluição nas grandes cidades – 14% dos casos, segundo a entidade.
O Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos países com o maior número de indivíduos com diabetes. Um estudo recente realizado pela Abril Inteligência, com apoio da AstraZeneca e do Curso Endodebate, mostrou que, no geral, a população associa o diabetes a problemas de visão e amputação, sendo que as doenças cardiovasculares são condições muito mais graves que podem levar à morte.
Apenas 47% acreditam que a doença possa estar relacionada com problemas cardíacos, o que demonstra uma falta de conhecimento do paciente sobre a sua condição, ainda que as doenças cardiovasculares sejam a principal causa de morte em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Novidades no tratamento
A preocupação com o impacto que a doença cardiovascular tem no idoso com diabetes foi a motivação para a criação da campanha “Para Sobreviver”, de oito instituições, entre elas, a SBD. Uma das mensagens da campanha é que já existem tratamentos capazes de controlar não apenas os índices de açúcar no sangue, mas também as complicações que a doença causa ao sistema cardiovascular.
Segundo Fernando Valente, coordenador de Comunicação da SDB, o foco das pesquisas, nos dias atuais, está em aprimorar as drogas que controlam o diabetes de forma que façam o controle do açúcar sem causar hipoglicemia, sem provocar ganho de peso e com mais segurança em relação aos riscos cardiovasculares. Entre eles, destacam-se os inibidores de SGLT2, que representam a mais recente inovação no tratamento oral do diabetes tipo 2. De novidade, há também as insulinas análogas, já incorporadas pelo SUS, que reduzem as chances de hipoglicemia
Os aparelhos mais novos de monitorização trazem a possibilidade de um diabético avaliar a glicose sem furar o dedo. “É um divisor de águas. O equipamento fornece inclusive as tendências da glicose: se vai subir, descer ou permanecer estável. O problema é o preço: cerca de R$ 250 reais e dura apenas 14 dias, dificultando o acesso pela maioria da população”, comenta Valente.
Como reverter esse cenário
Os especialistas concordam que a condição para o sucesso no controle no diabetes está no empoderamento do paciente sobre a sua doença e em políticas públicas voltadas para a educação alimentar e o estímulo à atividade física.
“Os diabéticos precisam de todos os profissionais de saúde para vencer a batalha: endocrinologistas, clínicos, educadores físicos, nutricionistas, educadores em saúde e farmacêuticos”, afirma Valente.
Para ele, facilitar a realização de exames também é fundamental, tanto a medição da glicemia quanto a aferição da pressão arterial, pois 80% dos diabéticos tipo 2 têm pressão alta. “Quando o paciente toma conhecimento de sua condição, aumentam as chances do autocuidado”, pontua.
Para o diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), Marcio Krakauer, entre as medidas a serem adotadas para reduzir o avanço do diabetes estão a instituição de programas viáveis de educação em massa sobre diabetes e programas de controle da obesidade. Além disso, promover mais acesso aos tratamentos existentes e incorporar ao Sistema Único de Saúde (SUS) medicamentos que já são utilizados de forma privada. “Estabelecer processos para a detecção precoce do diabetes também é fundamental, pois o pré-diabetes é uma condição que aumenta muito o risco de se ter a doença”, sugere. Cerca de 15% a 25% de pessoas com pré-diabetes já têm complicações oculares, segundo a SBD.
O papel de farmácias e drogarias é treinar farmacêuticos para que possam passar informações corretas aos pacientes, sendo vetores da educação em saúde. “Além dos testes de glicemia, os farmacêuticos deveriam orientar os pacientes a evitar a automedicação ou a troca de medicamentos. Outra iniciativa interessante seria promover palestras comunitárias e ações educativas, enfim ter um papel fundamental no círculo de ações necessárias”, diz o diretor SBEM-SP.
A professora Raquel Vilhena, mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Paraná, que pesquisa atualmente produtos naturais com potencial antidiabético, diz que as ações de prevenção e promoção da saúde na atenção básica são a chave para reverter esse cenário. “A orientação da população sobre a importância dos hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada, e a prática de atividades físicas contribuem para redução do sobrepeso e da obesidade, fatores fortemente associados ao desenvolvimento do diabetes. Além disso, a ampliação do acesso da população às terapias farmacológicas é uma importante medida na prevenção de agravos da doença”, avalia.