Terra Brasil
No ano do centenário da descoberta do mal de Chagas, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prepara para os próximos meses o início de testes em humanos de um novo medicamento à base de selênio, um dos elementos naturais subtraídos no organismo pela doença.
A diretora do IOC, Tânia Araújo-Jorge, responsável pela pesquisa, disse que os testes em animais foram concluídos com êxito e agora cumpre-se a série de protocolos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para os testes com os portadores da doença, em fase de seleção entre os 1,2 mil registrados no Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas, também da Fiocruz.
A importância dessa pesquisa pode ser avaliada pelo fato de, em 100 anos, a doença de Chagas ser combatida com um só medicamento, o Benzonidazol, que provoca efeitos colaterais danosos, não pode ser administrado por longo período e perde eficácia diante do crescente número de transmissores.
"O mal de Chagas é doença de pobre, mais especificamente de pobre latino-americano", explicou a pesquisadora. "Esta é a principal razão para termos só um remédio até hoje, embora o interesse venha aumentando nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e até Japão, porque a doença também chegou ao mundo desenvolvido."
A doença de Chagas desembarcou nesses países por meio de transfusão de sangue e transplantes de órgãos de doadores imigrantes portadores da doença. Embora a medicina e os aparelhos sejam sofisticados na Europa e na América do Norte, Tânia contou que eles não estão preparados para detectar se o sangue ou os órgãos estão infectados por um mal que não está na sua realidade.
Como ocorre no mundo inteiro nas pesquisas científicas em geral, a que se desenvolve no Instituto Oswaldo Cruz não tem prazo para chegar a algum resultado, mas Tânia Araújo-Jorge estima em sete anos o tempo para saber se os testes em pacientes com o novo medicamento apresentam resultado encorajador.
"É possível, não podemos afirmar nada, a não ser que, dando tudo certo, o governo ter de bancar o novo produto, porque a indústria farmacêutica internacional não tem interesse em fabricar remédio para quem não pode comprar", afirmou Tânia.
Se na África, Índia e nos países pobres da Ásia e da Oceania não existem os transmissores do mal de Chagas, na América Latina eles não param de se multiplicar e, pelas contas da diretora do IOC, somam mais de 100 apenas no Brasil.
No País, cujo universo de infectados gira entre 4 milhões e 6 milhões, o mal de Chagas é enfrentado em "três grandes linhas de ação", segundo Tânia: o estudo permanente e aprofundado do uso do Benzonidazol, a investigação sobre novas drogas contra o parasita e o fortalecimento da resistência do paciente.
Ela age nas três, mas seu foco principal é o paciente, e não o parasita. "Os doentes já são prioritários para transplantes desde o primeiro transplante de coração feito no País, há mais de 40 anos, como também merecem atenção especial para a implantação de marcapasso cardíaco", disse.
A expectativa de médicos e pesquisadores é de que em 50 anos o m