Valor Econômico
As farmacêuticas multinacionais entraram num frenesi de consolidação que está redesenhando o cenário do setor.
O acordo de US$ 41 bilhões da Merck & Co. (Merck Sharp & Dohme, ou MSD, no Brasil) para comprar a Schering-Plough Corp, anunciado ontem, ocorre depois do acordo da Pfizer Inc. para adquirir a Wyeth por US$ 68 bilhões, em janeiro, e da odisseia de sete meses da Roche Holding AG, que segundo pessoas a par do assunto estava perto de fechar um acordo para comprar a Genentech Inc. Com a fusão entre Roche e Genentech, avaliada em US$ 46,7 bilhões, e o acordo da Merck com a Schering-Plough, as transações entre farmacêuticas somam mais de US$ 87 bilhões apenas nos últimos dias.
O impulso de consolidação é alimentado pela realidade de que os departamentos de pesquisa e desenvolvimento dessas empresas não estão produzindo o suficiente de remédios lucrativos para mantê-las em crescimento, já que devem perder a patente de importantes medicamentos nos próximos anos. O resultado disso é que as gigantes farmacêuticas estão buscando consolidações que ajudem a cortar custos com a combinação de departamentos de pesquisa e de vendas, assim como a eliminação de outras redundâncias.
O que deve sobrar nesse meio tempo é um setor dominado por empresas gigantescas, o que motiva questionamentos sobre o destino de farmacêuticas menores, assim como de inumeráveis companhias de biotecnologia ainda menores e ansiosas por algum comprador. Mesmo com seus departamentos de P&D enfraquecidos, a gama de produtos oferecidos pelas farmacêuticas ainda garante boas margens, que por sua vez enchem o caixa dessa empresas com recursos para gastar em novas aquisições.
"Há empresas demais buscando oportunidades menores de aumentar a receita, então é preciso que haja uma chacoalhada", afirma o analista Tim Anderson, da Sanford C. Bernstein & Co. "Se você tem dinheiro em mãos e o valor das empresas que quer comprar é baixo, é a combinação perfeita", completa.
Washington também está pressionando as farmacêuticas, diante das expectativas de que o plano de reforma no sistema americano de saúde encolherá as margens. Consolidadas, as farmacêuticas podem se colocar numa posição melhor para unir seus produtos e negociar com o governo, dizem os analistas.
A quebradeira em Wall Street também é um fator: o setor de saúde tradicionalmente é visto como uma aposta relativamente segura, tornando mais fácil para as farmacêuticas captar recursos do que para outras empresas.
"A carnificina no mercado e as incertezas políticas serviram de empurrão (para a consolidação do setor)", disse Catherine Arnold, analista do setor farmacêutico do Credit Suisse.
Na Europa, além do esperado acordo da suíça Roche pelos 44% da americana Genentech que ainda não controla, a Novartis AG também já tinha se comprometido a comprar a fabricante americana de produtos oftálmicos Alcon Inc. por US$ 39 bilhões. A Roche informou que não está interessada em outras aquisições de porte, enquanto o diretor-presidente da Novartis disse em janeiro que outra grande aquisição para a empresa é "altamente improvável".
O diretor-presidente da GlaxoSmithKline PLC, Andrew Witty, também disse que a empresa britânica não está interessada em megafusões, chamando-as de "confusas". Ele<