Este site utiliza cookies para garantir seu funcionamento correto e proporcionar a melhor experiência na sua navegação. Ao continuar nesse site você está de acordo com nossa Política de Privacidade.
Notícias
18 de novembro de 2009.
Revista IstoÉ
Quase um quarto da população sofre de uma doença que causa movimento incontrolável dos membros inferiores
Os incômodos surgem quase sempre à noite, durante o repouso. A queixa recorrente é de pequenos choques nas pernas, sensação de picadas e comichões que provocam um desejo incontrolável de mexer as pernas para obter alívio. Trata-se de uma situação tão desconfortável que os pacientes ficam impedidos de participar até de programas corriqueiros, como ir a uma sessão de cinema. É com essa angústia que convivem os portadores da síndrome das pernas inquietas, uma desordem neurológica que começa a receber mais atenção dos médicos. Isso ocorre em razão de sua gravidade e também de sua incidência, surpreendentemente alta, segundo estudo apresentado na última semana no Congresso do Colégio Americano de Pneumologistas, em San Diego, nos EUA.
Até hoje as estatísticas indicavam que a enfermidade atingia cerca de 10% da população. Pesquisadores da Universidade de Missouri afirmam, porém, que o índice pode chegar a 23%. Para piorar, ainda há falta de conhecimento da doença por parte de médicos, o que favorece o subdiagnóstico. "Por isso, é preciso educar clínicos e pacientes sobre os sinais", diz o pesquisador Ammar Alkhazna, um dos responsáveis pelo trabalho. "Dessa forma será possível diagnosticar e oferecer uma terapia que melhore a qualidade de vida dos doentes."
Algumas informações sobre a doença estão disponíveis. Sabe-se, por exemplo, que ela está relacionada a um desequilíbrio no processo de regulação da dopamina. Esta é uma das substâncias que fazem parte da bioquímica cerebral e, entre suas funções, está a participação nos processos que levam ao controle motor. No entanto, há outros fatores em investigação. Entre eles estão a ausência de ferro no organismo, a diabetes e artrite reumatoide.
Também já está claro que os movimentos causados pela síndrome não têm nenhuma relação com o balançar de pernas e mãos, sintomas muito comuns durante situações de tensão ou de ansiedade. "São coisas bem diferentes", afirma o neurofisiologista Flávio Aloé, do Centro do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na síndrome, o desconforto aparece quando a pessoa se deita e aumenta de intensidade ao longo da noite. "Isso pode acontecer uma vez por semana ou todas as noites, prejudicando demais o sono", afirma Aloé. O mal-estar é tamanho que muitos pacientes precisam sair da cama e ficar caminhando pela casa ou começam a fazer massagens nas pernas. O resultado é que o portador não consegue descansar e, no dia seguinte, sofre com dificuldade de concentração e irritabilidade, por exemplo.
Embora não exista exame específico que leve a um diagnóstico, é possível identificar alterações e tratá-las com bom resultado. "Quando existe uma deficiência de ferro, por exemplo, a terapia de reposição desse mineral pode ajudar a controlar os sintomas", esclarece Aloé.