Jornal do Brasil
Brasil e Índia têm potencial para lucrar com expansão do mercado
Fatos levam a uma reflexão sobre necessidades e oportunidades de crescimento do negócio farmacêutico no âmbito do BRIC (termo que designa os quatro principais países emergentes do mundo, a saber: Brasil, Rússia, Índia e China): a população de 2,9 bilhões (ou 42% do mundo em 2009) para 3,2 bilhões em 2020; o aumento da perspectiva de maior longevidade; e a consequente necessidade de maiores recursos para a saúde e melhoria do acesso à tecnologia. Ou seja, há uma absoluta convergência para potencialidades de países em desenvolvimento.
A recente crise financeira mundial abriu uma janela para tornar o mundo mais multipolar e o BRIC é peça-chave neste cenário. O crescimento será maior que o do G-7. O sistema internacional vigente, construído há 65 anos, será totalmente diferente. O BRIC liderará a recuperação do tropeço especulativo e de exacerbada volúpia consumista que acabou explodindo em 2008/2009. A classe média é cada vez mais expressiva no bloco, exigindo qualidade de vida e consumo. Serão, aproximadamente, entre 400 milhões e 500 milhões de pessoas a mudar de patamar de consumo na próxima década. É uma classe média que deve trocar o modelo conservador dos últimos 60 anos, passando a buscar mais qualidade de vida. E, para isso, a saúde é fundamental.
Neste sentido, iniciamos com uma visão das oportunidades de crescimento do negócio farmacêutico, traçando um paralelo entre o Brasil e a Índia em função dos avanços ocorridos entre os dois países desde 1999. O Brasil tem mais atributos de um país desenvolvido que os demais do BRIC em termos socioeconômicos. Porém, peca pela morosidade em se desenvolver na tecnologia de fármacos. Já a Índia precisa avançar com mais rapidez e mudanças profundas em termos socioeconômicos, mas tem acelerado fortemente no processo de expansão da tecnologia farmacêutica. O Brasil sofre e sofrerá com os talentos gerenciais, pois forma quantidade e não premia a qualidade, abrindo uma enorme fenda entre o tempo de treinar a nova geração e a aposentadoria da experiente geração passada.
Atuação em parceria
O Brasil deve se beneficiar da já existente base tecnológica dos indianos, através da transferência de tecnologia e da abertura do capital de empresas locais aos mesmos. Os indianos, participando do gerenciamento e tendo acesso ao mercado brasileiro, adicionarão à sua base de conhecimento as particularidades de um mercado tão complexo como o brasileiro. Isso permitirá a abertura de uma janela para outros mercados, quer seja latino-americano ou de outros países em desenvolvimento. A biotecnologia, as drogas para o sistema nervoso central, para o câncer, para as doenças de Parkinson, Gaucher, esclerose múltipla, Alzheimer, coração e anticoncepcionais cujas tecnologias e matérias-primas são importadas são nichos de absoluta oportunidade, uma vez que demandam altos custos e crescerão em consumo mais do que o próprio crescimento da população.
Não há outro remédio para a indústria farmacêutica local e para quem paga o medicamento senão reduzir custos e aumentar qualidade. E esta alternativa passa pela parceria com a Índia. Temos casos de sucesso como a empresa Torrente, instalada no Brasil há pouco<