O Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro (CRF-RJ) promoveu um simpósio sobre os benefícios e riscos da comercialização de autotestes de HIV em estabelecimentos farmacêuticos.
Os debates contaram com a presença de Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, no Ministério da Saúde, e Augusto Bencke Geyer, gerente da Gerência de Produtos Diagnósticos de Uso In Vitro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A comercialização dos autotestes foi autorizada pela Anvisa, a partir da publicação da RDC 52, no fim de 2015, mas eles ainda vão demorar alguns meses para chegar ao ponto de venda porque precisam ser registrados na Anvisa. E, até o momento, nenhum fabricante abriu processo de registro.
Ministério da Saúde (MS) e Anvisa liberaram a venda em farmácias e drogarias porque querem ampliar o acesso ao diagnóstico e aumentar o controle da infecção por HIV no Brasil. Além disso, o diagnóstico precoce melhora a qualidade de vida do paciente. A maioria das mortes por Aids é atribuída ao diagnóstico tardio. O paciente vai viver mais e melhor se começar o tratamento mais cedo. Segundo pesquisas, um em cada cinco indivíduos desconhece que é portador do vírus.
“Existe um nicho específico para o autoteste, não é para todo mundo. É para quem está no grupo de risco e quer privacidade. Sobre a preocupação de a pessoa tentar o suicídio diante de um resultado positivo, não existe nenhum indicador dramático em nenhum lugar do mundo”, comenta o diretor do MS, Fábio Mesquita.
Outra dúvida é quanto ao preço do produto. Nos Estados Unidos, custa em torno de 60 dólares. No Brasil, a Anvisa estima que o autoteste seja por vendido por 120 reais, mas ainda não é possível determinar com precisão.
A classe farmacêutica é favorável à decisão da Anvisa, mas pondera sobre o preparo das farmácias e dos farmacêuticos. Na prática, o consumidor apenas vai comprar e realizar o teste em casa. Mas e se ele pedir orientação ao farmacêutico? E se voltar à farmácia com um resultado positivo?
O diretor executivo da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), Luiz Fernando Barcelos, considera a medida da Anvisa desnecessária. “Defendemos que esse tipo de diagnóstico deve ser feito num ambiente de saúde, com pessoas treinadas. De jeito que foi proposto, vamos perder as estatísticas. Não haverá nenhum controle”, alerta Barcelos.
A norma da Anvisa exige que os fabricantes coloquem à disposição um telefone gratuito para atendimento 24 horas, mas, para profissionais da área, isso pode não ser o suficiente. Muitas perguntas sem respostas. Leia, na Revista da Farmácia de março, uma reportagem completa sobre o assunto.
Fonte: Ascoferj