O prefeito da maior cidade da América Latina deixou o cargo mil dias antes do fim do mandato e deixou a “bomba”, quero dizer, o cargo na mão do jovem vice-prefeito, que, obviamente, receberá olhares de desconfiança sobre sua capacidade para dar conta do recado.
O que isso tem a ver com gestão? Tudo. Saindo do universo paralelo da política brasileira, numa empresa privada, a saída tão precoce de uma liderança marcante para dar lugar a uma jovem promessa, mas ainda inexperiente, seria motivo de apreensões. Afinal, como saber quando alguém está pronto para substituir uma liderança marcante?
O bom senso nos diz que o processo de substituição, na sua forma ideal, deve ser paulatino, num contínuo procedimento de aprendizado e fortalecimento da nova liderança até que o substituto esteja preparado para receber o bastão de forma definitiva.
Porém, situações inesperadas acontecem, e você pode se deparar com a necessidade de ter que colocar uma pessoa à frente mesmo que não esteja preparada de forma ideal. Nesse caso, algumas dicas podem ajudar.
Lembre-se de alertar o novato sobre os riscos, as responsabilidades e as consequências que o desafio pode trazer. Sim, há riscos. Se você vai colocar alguém para mexer com valores, controlar estoques, abrir e fechar sua loja, negociar com fornecedores, isso envolve riscos. E pessoas maldosas podem se aproveitar de distrações eventuais que um novato no cargo de gerência possa ter.
Tenha uma reserva adicional de paciência para aturar alguns erros básicos que podem vir a ocorrer, pois o novato ainda estará no começo de sua curva de aprendizado.
Como consequência da dica anterior, não delegue tudo de uma vez e mantenha a rédea curta no começo, até ter certeza de que as coisas estão sob controle e que o novato está seguro. Provavelmente, você terá que ficar mais tempo próximo, fazendo você mesmo e ensinando para ter segurança de que os procedimentos estão sendo realizados conforme você deseja.
Esteja preparado para ouvir reclamações dos demais funcionários a respeito do novato. Sim, ele será inevitavelmente comparado ao gerente que está sendo substituído, e isso pode ser um pouco desagradável, mas seria simplista achar que uma substituição abrupta não traria estranhamentos numa fase inicial.
Monitore diariamente o novato e esteja disponível para responder perguntas com frequência, pois é melhor que ele peque pelo excesso de prudência do que pela falta de zelo. Ainda que seja desagradável o funcionário excessivamente inseguro que fica a toda hora ligando para pedir ajuda na tomada de decisão, é mais perigoso o funcionário excessivamente autoconfiante, ansioso para mostrar serviço e que, achando que vai agradar ao patrão, toma várias iniciativas afobadas.
Equilibrar a necessidade de o novato ter autoconfiança para seguir em frente e, ao mesmo tempo, a prudência para não avançar o sinal é a essência do que se busca na formação de uma nova liderança. O tempo e o aprendizado do dia a dia ajudam a cimentar esse caminho.
Por Fernando Gaspar
Consultor especializado na construção de indicadores gerenciais para varejo e serviços
Fale com Gaspar: fgaspar00@gmail.com