Nos últimos anos, com o surgimento de novas resoluções, crises sanitárias e epidemias como a da COVID-19 e, atualmente, da dengue, as farmácias finalmente voltaram a assumir o seu devido valor na sociedade quando o assunto é democratização do acesso aos cuidados e à assistência à saúde. Hoje, esses estabelecimentos já não são mais simples pontos de venda de medicamentos; muitos já se tornaram hubs de serviços, oferecendo uma gama cada vez mais ampla de soluções para o bem-estar geral, como exames rápidos, vacinas e procedimentos clínicos.
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A farmácia é, na verdade, um dos estabelecimentos de saúde com maior capilaridade do Brasil. Há cerca de 90 mil unidades distribuídas em todo o território, contra 45 mil pontos de assistência do SUS, o maior sistema de saúde pública do mundo; 15 mil laboratórios de análises clínicas; e 7 mil hospitais. Ainda dentro das farmácias, existem cerca de 189 mil farmacêuticos, ou seja, um batalhão de profissionais de saúde ativos, com múltiplas possibilidades de atuação, já que a profissão pode atuar em mais de 100 áreas de especialização.
Entre 2003 e 2023, esse mercado cresceu 63% no país. Em meio à ascensão do varejo digital, que chegou com força total ao ecossistema farmacêutico, as unidades físicas, mais do que nunca, precisam caminhar rumo a transformações significativas para não ficarem para trás. Afinal, em um terreno onde a competição é cada vez maior, a margem é estreita e a mudança no comportamento do consumidor é imperativa, atentar-se às últimas tendências se torna um ponto de atenção para se sobressair em um cenário desafiador.
Esta consolidação como estabelecimento de saúde faz com que a farmácia consiga trazer importantes ganhos diretos, através do faturamento gerado pelos serviços, e também indiretos, já que a jornada de interação com o estabelecimento é transformada: segundo dados de mercado, em farmácias que realizam esses serviços, o paciente que interage com os mesmos possui ticket médio 42% superior, é pelo menos 4,3 vezes mais frequente, gera um consumo médio 6 vezes maior e possui um NPS superior a 90%; em outras palavras, o LTV (lifetime value) deste paciente é extremamente superior àquele que não interage com esses serviços.
Complementando o raciocínio e compartilhando tendências, destaco três questões cruciais que têm o poder de impactar, e muito, o desempenho das farmácias da nova era.
Ampliação no portfólio de prevenção à saúde
À medida que as pessoas se tornam mais conscientes sobre a importância do autocuidado antes que problemas sérios surjam, as farmácias estão se adaptando para atender essa demanda. Isso se reflete no aumento da oferta de exames rápidos, vacinas e demais serviços prestados. Trata-se de um mercado que está chamando a atenção do mundo todo, então certamente teremos grandes novidades e novos fornecedores chegando. Para se ter ideia, segundo dados da plataforma Clinicarx, atualmente, o número de exames de dengue cresceu mais de 20 vezes e o de testes de COVID-19 mais de 30 vezes; legados também do carnaval e da aglomeração populacional que tradicionalmente ocorre nesta festividade.
Novos produtos interconectados
Também veremos cada vez mais jornadas que fogem da prestação de serviços apenas dentro das farmácias. Em outras palavras, esses estabelecimentos atuarão de maneira mais intensa como portas primárias, consagrando-se como fatores-chave no encaminhamento de usuários a demais pontos do ecossistema de saúde, como para consultas médicas e programas de benefícios de assinaturas mensais.
Consolidação de serviços e profissionalização
Hoje, se um paciente no Brasil acaba acessando atendimento de saúde em uma UPA, unidade de atendimento ambulatorial ou um hospital, em situações simples que poderiam ser resolvidas de maneiras mais rápidas e digitais, essa ‘visita’ vai gerar, de entrada, um custo de cerca de R$ 700,00 para o sistema de saúde. Por outro lado, se tivesse a oportunidade de realizar uma consulta ou um teste rápido em uma farmácia ou em uma jornada de telessaúde, o país reduziria esse valor em pelo menos seis vezes.
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Portanto, com a consolidação e a profissionalização desses serviços nas farmácias, além de os estabelecimentos encontrarem uma maneira de aumentar a clientela local, também serão capazes de viabilizar soluções para um grave problema no âmbito da saúde, que é a falta de acesso a serviços nessa área para a população brasileira, que tanto sofre nestes anos pós-COVID e de cenário econômico instável.
*Texto de Jauri Siqueira, head de Serviços de Saúde e Novos Negócios da Clinicarx do hub Interplayers.