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Conhecimento para uma vida melhor

Farmacêutica e educadora em diabetes, Mônica Lenzi destaca a contribuição da farmácia no difícil desafio de ensinar o diabético a cuidar de si mesmo.

Em 14 de novembro, comemora-se o Dia Mundial do Diabetes. Para não deixar a data passar em branco, a Revista da Farmácia conversou com Mônica Lenzi, farmacêutica e educadora em diabetes. Desde 2006, ela dedica-se ao atendimento de pessoas portadoras da doença. Durante esses quase dez anos, a especialista estudou formas de melhorar a qualidade de vida dos diabéticos, promovendo cursos e participando de feiras e congressos específicos da área. Educadora em diabetes, qualificada pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e pela International Diabetes Federation (IDF), Mônica tem atuado como palestrante em empresas, escolas e webinários ao vivo, levando informação a todas as pessoas que precisam conhecer o tema. Em março de 2014, foi homenageada pela Câmara da Mulher Empresária da ACIB (Associação Empresarial de Blumenau) por sua contribuição com o 6º Objetivo do Milênio da ONU: “Combater a AIDS, Malária e outras Doenças”. Nesta entrevista à Revista da Farmácia, Mônica conta um pouco sobre a proposta de educação em diabetes e de que forma a farmácia pode contribuir com essa missão. Leia a seguir.

 

Revista da Farmácia: De que forma a farmácia pode contribuir para ajudar as pessoas diabéticas a viverem mais e melhor?

Mônica Lenzi: O farmacêutico tem um papel fundamental no controle glicêmico do paciente diabético e, até mesmo, na prevenção do diabetes, pois o portador dessa doença frequenta a farmácia de 3 a 8 vezes mais do que qualquer outra pessoa. O paciente vai à farmácia, no mínimo, uma vez ao mês, e ao médico a cada três meses. Portanto, o farmacêutico pode dar diversas contribuições, entre elas, incentivar a adesão ao tratamento e orientar sobre a melhor forma de aplicar a insulina, detendo-se a detalhes como tamanho da agulha, rodízio de aplicação, uso correto do medidor de glicose, etc. O tratamento da diabetes é rico em detalhes e, muitas vezes, o diabético não consegue assimilar todas as informações dadas durante a consulta médica. Por isso, o farmacêutico deve assumir o seu papel de profissional de saúde, deixando de ser um simples dispensador de medicamentos para agregar novas informações ao tratamento, a fim de que esse paciente consiga gerir seus níveis de glicose com mais autonomia e qualidade de vida.

 

RF: O que a sua experiência e o seu contato diário com esses pacientes têm lhe ensinado sobre a doença?

Mônica: Primeiramente, que o tratamento é individualizado. Quando temos uma dor de cabeça, tomamos um analgésico, mas com a diabetes é diferente, pois as pessoas não são iguais e reagem de forma distinta em relação à alimentação, à medicação e até à atividade física. Dessa maneira, devemos atentar aos detalhes, como detetives, buscando identificar em que podemos melhorar ainda mais o tratamento de cada indivíduo. Por mais recursos que tenha o paciente diabético, com acesso aos melhores medicamentos e insumos, sem conhecimento seu tratamento estará comprometido. Existem duas palavras para um tratamento eficaz: disciplina e educação. A primeira é de cada indivíduo, que deve mudar o estilo de vida. A educação, por sua vez, será obtida por intermédio do profissional de saúde que estará lhe dando apoio. É nesse momento que entra o farmacêutico.

 

RF: O que as pessoas precisam, de fato, saber sobre o diabetes?

Mônica: Diabetes é uma pandemia, ou seja, uma epidemia mundial. Atualmente, existem mais de 395 milhões de diabéticos no mundo. O Brasil tem cerca de 12 milhões e ocupa o quarto lugar no mundo em número de casos, perdendo somente para China, Índia e Estados Unidos. Importante acrescentar que a diabetes é classificada em dois tipos principais. O tipo 1 é uma doença autoimune, que destrói as células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina. As pessoas portadoras do tipo 1 devem aplicar insulina diariamente, cuidar da alimentação e fazer atividade física. Elas correspondem a cerca de 10% dos casos de diabetes. O tipo 2 é uma doença que afeta a insulina produzida pelo pâncreas, tornando-a insuficiente ou incapaz de desempenhar seu papel adequadamente, o que chamamos de resistência insulínica. Esse tipo de diabetes promove a elevação dos níveis de açúcar no sangue e corresponde a cerca de 90% dos casos. Quando não tratada, a diabetes provoca consequências devastadoras, podendo levar à perda da visão, a amputações, AVC, disfunção erétil, entre outros problemas. Elevando o nível de conhecimento das pessoas sobre os riscos da diabetes descontrolada, podemos minimizar o surgimento das complicações ou, até mesmo, de novos casos entre a população.

 

RF: Os portadores de diabetes estão preparados para o autocuidado? Sabem cuidar dos medicamentos e dos acessórios corretamente? Quais são os erros mais comuns?

Mônica: Quanto mais conhecimento o diabético tiver sobre sua condição, sobre a doença e como ela pode afetar a vida dele, mais controle dos níveis de açúcar no sangue ele vai conseguir. Conhecer os locais de aplicação de insulina, saber como os alimentos influenciam a glicose, fazer as medições de glicose corretamente, interpretar de forma adequada os resultados dos testes, seguir a prescrição médica e armazenar e transportar a insulina com segurança são alguns exemplos de orientações que devem ser dadas aos diabéticos pela farmácia. Geralmente, por falta de conhecimento, os diabéticos não fazem rodízios dos locais de aplicação de insulina, escolhem inadequadamente o tamanho das agulhas, não higienizam as mãos antes dos testes e abandonam o tratamento quando os sintomas desaparecem.

 

RF: A farmácia Doce Vida ainda existe? Que tipo de serviço ela oferece para os clientes portadores da doença?

Mônica: Vendi a Doce Vida este ano para me dedicar integralmente à educação, realizando palestras e cursos, tanto para os pacientes diabéticos como para profissionais de saúde que trabalham com esse público. Percebo que existe um despreparo por parte de farmacêuticos, gestores e funcionários de farmácias para atender a esse tipo de cliente, que representa o maior tíquete médio do varejo farmacêutico.

 

RF: Disciplina e educação, para você, são duas importantes palavras para o controle da glicemia. Se a disciplina depende somente do doente, de quem depende a educação? Como ter acesso a ela em um país com número enorme de pessoas excluídas social e economicamente?

Mônica: A disciplina vem com a mudança de hábitos. Já a educação deve ser promovida pelos profissionais de saúde que assistem pessoas diabéticas em clínicas, hospitais privados e públicos, postos de saúde, farmácias. Vem daí a necessidade de capacitar, cada dia mais, um número maior de profissionais para o atendimento ao diabético. Eu tenho usado as redes sociais para disseminar conhecimento. Tenho milhares de seguidores em minha Fanpage (facebook.com/diabetesevoce) e no canal do Youtube (Diabetes&Você).

 

RF: Qual a formação necessária para ser um educador em diabetes?

Mônica: Para ser um educador em diabetes, o profissional deve ter formação na área da saúde. O tratamento do diabetes é multidisciplinar, ou seja, além do médico, são necessários enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e farmacêuticos.

 

RF: A farmácia pode exercer esse papel por intermédio do farmacêutico? Que orientações você dá para que o estabelecimento faça isso corretamente?

Mônica: A Resolução 585 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), publicada em 2013, permite que o farmacêutico passe a dar atendimentos em consultórios. Dessa forma, ele deixa de ser apenas um dispensador de medicamentos, passando a ser reconhecido como profissional de saúde que, em parceria com o médico, vai auxiliar os diabéticos em uma melhor gestão de seus níveis glicêmicos, minimizando o surgimento de complicações e, até mesmo, de novos casos. As farmácias podem organizar eventos e campanhas, bem como promover palestras com profissionais especializados em diabetes. Como diz o guru do marketing, Philip Kotler, “as empresas seriam espertas se conhecessem melhor seus clientes”. Conhecendo as necessidades do cliente diabético e mantendo um registro dos medicamentos e insumos usados por cada um, a farmácia pode inovar e prestar um serviço de excelência. Além disso, uma equipe bem treinada tem condições de reconhecer as necessidades individuais de cada cliente, podendo agregar valor ao atendimento. Por exemplo, o diabético que vai à farmácia comprar insulina, certamente, tem a necessidade de adquirir também agulhas ou seringas. Ele também monitora a glicose capilar, precisando de tiras e lancetas. Ao adquirir tudo em um só lugar, o cliente se sente mais satisfeito, pois poupa. E a venda inicial da farmácia será acrescida de outros produtos.

 

RF: Como a saúde pública, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), tem lidado com a questão da diabetes? A educação tem sido contemplada de alguma forma? Como você avalia as políticas públicas de saúde nesse sentido?

Mônica: Como o SUS é municipalizado, não existe padrão de atendimento. Por lei, algumas formas de tratamento são dispensadas gratuitamente pelos postos de saúde. Os pacientes que fazem uso de insulina e retiram as tiras para medição de glicose capilar gratuitamente nos postos devem frequentar, mensalmente, reuniões de educação em diabetes, mas nem todo município tem essa estrutura ou nem mesmo profissional qualificado. Daí a necessidade de capacitarmos farmacêuticos, enfermeiros e médicos que atendem nos postos de saúde de todo o Brasil.

 

RF: Mônica, a doença tem avançado ou regredido? Você tem números atualizados?

Mônica: A diabetes vem crescendo de forma alarmante. Acredita-se que 46% dessas pessoas ainda não foram diagnosticadas. A cada sete segundos morre uma pessoa no mundo vítima das consequências do diabetes. Em 2014, foram 4,9 milhões de mortes. As previsões são bastante pessimistas em relação ao aumento de casos. Estima-se um aumento de 205 milhões até 2035, segundo dados da International Diabetes Federation (IDF).

 

RF: Para finalizar, qual a sua opinião sobre farmácias e drogarias serem locais de vacinação, como propõe um projeto de lei do vereador Eliseu Kessler?

Mônica: Se as farmácias e os farmacêuticos estão habilitados para aplicação de outros injetáveis,  por que não podem usar o mesmo espaço para a aplicação de vacinas? Acho muito válido propor a ampliação dos serviços nos estabelecimentos farmacêuticos. E volto a insistir que o farmacêutico está habilitado para exercer outras funções na área de saúde que não apenas a dispensação de medicamentos.

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