Revista da Farmácia – ed. 196:
Mesmo com tanta informação disponível atualmente – internet, jornais, revistas, consultoria especializada – ainda é muito comum que pequenas e médias empresas cometam o erro de fazer retiradas aleatórias do caixa, o que pode levar o negócio à bancarrota. O correto é definir um salário mensal para o proprietário – ou sócios – e respeitar esse valor até em tempos de bonança.
Pró-labore vem do latim pro labore, que significa “pelo trabalho”, ou seja, é salário, remuneração por serviço prestado. Ele deve ser um valor fixo, mensal e obrigatoriamente pago pela empresa. A definição desse pró-labore é importante para delimitar a remuneração do trabalho do empresário, distinguindo do lucro, que é a remuneração do capital que ele investiu na empresa.
Ao contrário do pró-labore, o lucro é variável e depende da oscilação dos negócios. Boa parte dele deve ser reinvestida na própria empresa para mantê-la saudável e em constante crescimento. Ao empresário, no papel de sócio, cabe receber da empresa a parcela do lucro não reinvestida, chamada de dividendo.
Outra questão importante é que, quando o dono não define um pró-labore, a empresa é enganada pela falta de custos nos projetos em que ele participa. Se o empresário trabalhou, ele é um custo e deve ser remunerado por isso.
Como definir o valor do salário
O valor do pró-labore deve ser estabelecido já no plano de negócios, por meio do qual é possível projetar as receitas e despesas de uma futura farmácia por 12 ou até 24 meses, prevendo também o investimento a ser feito e o tamanho do capital de giro necessário para suportar os resultados negativos da empresa nos primeiros meses de funcionamento. Com esse planejamento, o empresário consegue antever em quanto tempo será possível fazer uma retirada mensal de pró-labore.
Em geral, não há caixa suficiente para o pagamento do salário do proprietário nos primeiros seis meses de operação comercial. “O problema é que o empresário necessita pagar as contas durante esse período de estabilização da empresa. Para isso, sugerimos a formação prévia de uma poupança pessoal para o próprio sustento nessa fase, pois não compensa capitalizar a empresa só para pagar pró-labore, e ainda gerar custos tributários desnecessários”, analisa o consultor financeiro Jorge Wilson Alves.
De acordo com Adriano Schinetz, diretor na Gestão Farma, empresa especializada em gestão de varejo farmacêutico, mesmo com planejamento de vendas e despesas, recomenda-se que os sócios não retirem nenhum valor nos primeiros seis meses de operação. “Caso haja realmente necessidade de uma retirada logo no segundo mês de funcionamento, o valor do pró-labore deve ser compatível com a realidade da empresa. Portanto, se não é possível retirar o que se havia planejado, não o faça”, alerta o especialista.
Definir o pró-labore requer planejamento e preparação. Por isso, na opinião do diretor do Instituto Bulla e farmacêutico com MBA em Gestão Avançada do Varejo Farmacêutico, Cadri Awad, é necessário fazer o Demonstrativo de Resultado Financeiro da empresa e definir qual o lucro ideal a ser garantido nas operações comerciais. “Como o pró-labore é um dos componentes das despesas fixas, seu valor não pode prejudicar a meta de despesas definida para garantir o resultado pretendido no final do exercício”, alerta Cadri.
Mas qual o valor, afinal de contas? “O pró-labore do proprietário ou sócio deve ser compatível com a função exercida e com o faturamento da empresa”, reforça o consultor Alves. “Boas práticas de gestão financeira recomendam adotar como parâmetro para definição do pró-labore o valor que seria pago a um administrador ou diretor profissional. Existem várias consultorias que realizam e divulgam pesquisas periódicas sobre as remunerações praticadas por empresas de vários portes e diferentes ramos de atividade”, sugere.
E quando for uma sociedade?
Existem duas formas de se remunerar os sócios de uma empresa: por meio de pró-labore ou distribuição de lucros. O pró-labore, como já foi dito, é o salário que o sócio recebe por trabalhar na empresa e a distribuição de lucros é a remuneração do investidor, quer ele trabalhe ou não. O recebimento dessa remuneração é, na verdade, uma forma de compensar o investidor por ter o capital dele empatado na farmácia e por ter assumido os riscos do investimento.
Assim como no pró-labore, a distribuição de lucros é feita de maneira proporcional à participação de cotas no contrato social da empresa. A grande questão aqui é que, não havendo lucros, não haverá dividendos. Apesar disso, muitos investidores preferem participação nos lucros a salários, pois sobre o lucro não incide Imposto de Renda.
O valor do pró-labore para cada sócio e os percentuais para divisão de lucros devem ser negociados e registrados no contrato social.
Metendo a mão no caixa
Retiradas aleatórias de valores, sem planejamento e controle, trazem sérios riscos para o negócio. A primeira e mais grave das consequências é a perda de controle do caixa da empresa. Quando o faturamento cresce, aparece mais dinheiro em caixa. No entanto, a necessidade de capital de giro é proporcional, pois o volume de mercadorias a ser comprado também é maior. Se o dinheiro que brotou no caixa for, aleatoriamente, retirado pelo empresário, vai fazer muita falta logo adiante e acabará sendo coberto por empréstimos bancários.
“É preciso entender que o montante sacado em um dia para fins pessoais poderá fazer falta em outro para pagamento de contas. Sem dinheiro para quitar obrigações financeiras, o empresário vai buscar financiamento junto a bancos para pagar salários, fornecedores, tributos, etc. Com isso, a margem de lucro vai sendo consumida, descontroladamente, pelos juros”, explica Cadri Awad.
Outra consequência negativa é o empresário perder também o controle de seus próprios gastos pessoais. Uma vez bancados pela empresa, eles tendem a crescer até se tornarem inviáveis assim que o caixa da empresa sofrer as oscilações de faturamento. “Essa situação é juridicamente caracterizada como confusão patrimonial no artigo 50 do Código Civil, podendo levar à desconsideração da personalidade jurídica, fazendo o empresário pagar com seus bens pessoais as dívidas da empresa”, previne Awad.
Segundo o consultor Jorge Alves, retiradas acima do que a empresa suporta ameaçarão a capacidade de investimento ou a degradação do capital de giro. “O grande problema é que sabemos que boa parte das farmácias do varejo independente sequer mantém capital de giro em níveis adequados. Nesse caso, o principal afetado é diretamente o fluxo de caixa, que acaba por ficar negativo e forçar a empresa a se endividar, entrando em um ciclo vicioso de dívidas, que, em curto prazo, comprometerão o futuro do negócio”, acrescenta.
10 dicas para organizar o fluxo de caixa
- Determine um período para o seu fluxo de caixa. Pode ser por dia, semana, quinzena ou mês. Não escolha um período muito longo, senão você corre mais risco de perder o controle.
- Defina uma maneira de identificar receitas e despesas. Pode ser por cores e/ou por um sinal de subtração em frente ao valor. O importante é que seja fácil identificá-las no fluxo de caixa.
- Identifique movimentações financeiras periódicas, separando as receitas e despesas que são periódicas daquelas que não são. Assim, você pode registrá-las nos fluxos de caixa de períodos futuros e fazer previsões de pagamentos ou recebimentos.
- Registre as contas a pagar. Assim, você terá o saldo atual consolidado do seu caixa e o saldo futuro provisionado, ou seja, já considerando as contas que você vai ter que pagar.
- Registre as contas a receber, inclusive as parceladas. Assim, seu saldo futuro provisionado já irá contemplar o dinheiro que irá entrar no caixa da empresa.
- Crie categorias para classificar suas receitas e despesas. Exemplo: material de escritório, internet, manutenção predial, etc.
- Determine quais são os departamentos da sua empresa (Administração, Recursos Humanos, Comercial, Produção, etc) e crie centro de custos para agrupar as respectivas despesas. Assim, você saberá onde está gastando seu dinheiro de forma mais estruturada.
- Crie centros de lucros para agrupar suas receitas. Eles podem ser projetos, produtos, serviços ou qualquer outra forma de agrupar receitas.
- Visualize seu fluxo de caixa por categorias de receitas e despesas. Isso pode ser feito tanto em planilhas do Excel como em softwares de controle financeiro.
- Visualize seu fluxo de caixa por centros de custo/lucro. Isso te dará uma visão de onde vem e para onde vai o dinheiro.
Fonte: Blog Controle Financeiro para Empresas
Comunicação Ascoferj