Folha de S. Paulo
Dados são de pesquisa inédita do Conselho Regional de Medicina de SP
Quase metade (48%) dos médicos paulistas que recebem visitas de propagandistas de laboratórios prescreve medicamentos sugeridos pelos fabricantes. Na área de equipamentos médico-hospitalares, a eficácia da visita é ainda maior: 71% dos profissionais da saúde acatam a recomendação da indústria.
Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, vêm de uma pesquisa inédita do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), que avaliou o comportamento médico perante as indústrias de remédios, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares.
Feito pelo Datafolha, o levantamento envolveu 600 médicos de várias especialidades, que representam o universo de 100 mil profissionais que atuam no Estado. Do total, 80% deles recebem visitas dos propagandistas de medicamentos – em média, oito por mês. A pesquisa revela que 93% dos médicos afirmam ter recebido, nos últimos 12 meses, produtos, benefícios ou pagamento da indústria em valores até R$ 500.
Outros 37% declaram que ganharam presentes de maior valor, desde cursos a viagens para congressos internacionais.
Apoio
A maioria dos médicos (62%) avalia de forma positiva a relação com a indústria. Para 73% deles, os congressos científicos não se viabilizariam sem apoio da indústria de medicamentos e de equipamentos. Luna Filho pondera que, com a internet, o acesso a informações médicas está universalizado. "Essa conversa de que médico tem que ir para congresso no exterior para se atualizar é balela. Ele vai é para fazer turismo."
Existem várias normas – inclusive um artigo no novo Código de Ética Médica, uma resolução da Anvisa e um "código de conduta" da associação das indústrias- que tentam evitar o conflito de interesses na relação entre médicos e laboratórios.
"O problema é que não existe um controle rigoroso de nenhuma das partes", diz Volnei Garrafa, professor de bioética da UnB.
Laboratórios dizem que conduta é rigorosa
Para entidades, relação com médico é correta e abusos já são punidos Associação da indústria farmacêutica e o Conselho Federal de Medicina vão revisar código de conduta
As entidades que representam as indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais avaliam que seus códigos de conduta são rigorosos e que já vêm sendo cumpridos pelos laboratórios.
O código de ética da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) veta, por exemplo, o financiamento de eventos médicos em resorts e viagens de primeira classe para participação em congressos."Temos uma comissão de ética que, quando vê problemas, pune", afirma Antônio Britto Filho, presidente da Interfarma.
A entidade reúne 29 laboratórios, a maioria multinacionais, que representam 54% do mercado brasileiro de medicamentos. De acordo com ele, a entidade se juntou ao CFM (Conselho Federal de Medicina) para revisar o código de conduta, que está em vigor há dois anos.
"Para nós é essencial que essa relação fique dentro do campo ét